Delicadezas incisivas
Aline Dias ao apresentar a obra de Elke Coelho, comenta a singularidade que a artista trabalha se apropriando de objetos do cotidiano, seu processo e conceitos.
“A os objetos ocupam lugar a nossa volta, ocupam o espaço da nossa experiência. os objetos alinhados na fábrica, na loja, sobre os nossos móveis, gavetas, prateleiras. sem uso ainda, preparados para serem usados. comprar novos e sem marcas. as pessoas que manuseiam os objetos quando eles estão sendo feitos. o que as pessoas tocam com as mãos.
ela disse que via pequenos pontos brancos, mais ou menos alinhados, organizados em fileiras mais ou menos equidistantes, que se alinhavam até o horizonte.
os objetos feitos para um uso que não é o do artista. os objetos transitam entre a fatura anônima e impessoal e os usos particulares. nunca é estanque. o que se faz com as mãos sempre deixa marcas. a diferença inframince de que fala duchamp, entre dois objetos saídos da fábrica, produzidos em série.
ela lixa as lâminas para apagar a marca do fabricante.
ela ri grande, quando ri.
(macio é pouco para o cobertor preferido, rígido é pouco para o corpo que cai no chão)”
Sobre o livro Cartografias Cotidianas:
Este projeto sinaliza um território para situar a população em relação à produção brasileira de arte contemporânea, em especial a que dialoga com a prática do desenho. Para esse fim, foram reunidos trabalhos nos quais qualidades gráficas se evidenciam em observações particularizadas do cotidiano, no estranhamento que pode causar o dado próximo e na extensão multidimensional que pode ter o que costumamos chamar de familiar. A variação de abordagens dos artistas e pesquisadores convidados acaba por afetar e ampliar nossa percepção sobre esse território.
Em seu conceito expandido, além de seu caráter de registro imediato, o desenho tem ocupado lugar central nas discussões sobre a arte contemporânea devido a sua potência como manifestação de idéias, por seu caráter processual e pela possibilidade de desdobrar-se, avizinhando-se da literatura, filosofia,geografia humana, sociologia, entre outras.
A escolha dos artistas para este evento se fixa na qualidade dos dados cotidianos que aglutinam em seus trabalhos e na problematização da realidade através de um olhar divergente que possibilita uma atitude mais emancipadora e inclui uma visão aproximadora e crítica do lugar onde se vive. Nesse sentido, são norteadores deste projeto a permanente necessidade de trocas simbólicas que abordem a relação dos indivíduos com a realidade, a inserção de pontes que conectem sensibilidades e a produção de materiais didáticos/educativos que realoquem o sujeito como parte de um sistema de produção de sentido na relação direta com obras de arte que falem da realidade contemporânea.
Elke Coelho e Danillo Villa.