Quem tem medo de olhar pra cima?
As inquietações fotográficas de Zamboni nos levam a viajar por ângulos inusitados e singulares das cidades. Nelas, percebemos cores e formas reveladas pelas luzes captadas pelo viajante durante seu caminhar cotidiano. Juntamente com a captura seletiva de Zamboni, acompanhamos os recortes de casas, edifícios, detalhes da paisagem citadina, de diferentes partes do mundo, por onde caminha o artista. Guiados pelas luzes esplendorosas do sol da manhã, podemos perceber, a cada fotografia, luzes diáfanas que ora se intensificam, ora se transformam em quentes luzes do final do dia. Luzes que originam sombras e desvelam formas moldadas por ricas e diferentes texturas, não obstante, em outros momentos, venham clarear a crueza concreta do mundo. Nesse percurso, o viajante em seu movimento espacial se depara com o vazio atemporal que invade a paisagem citadina. Vazio denso que transforma em figura um céu tradicionalmente representado como fundo infinito. O tempo pára. Tensão. O artista provoca: “Quem tem medo de olhar para cima?”
Olham para cima aqueles que tem coragem de olhar para o infinito, dentro de si mesmos. A percepção entre o mundo exterior e interior é próprio daqueles que tem coragem de mudar a direção de seu olhar, exercitar e aguentar o lugar de sua escritura fotográfica para circunscrever esse suposto lugar imaginado, mas impossível de completude. Ao dar visibilidade ao real que não cessa de nos rodear, a fotografia de Zamboni mostra, escancaradamente, o vão desejo humano de suturar as falhas, as ranhuras, o vazio abissal de nossa existência e a tarefa sisífica de escavá-lo. Assim, Sílvio, nos mostra o lugar da arte que ele faz no vazio de seu desejo insabido: aquilo que o move e, paradoxalmente, move seu fazer fotográfico.
Silvio Zamboni é artista intermídia, pioneiro no uso de microcomputadores em arte. Doutor em Artes pela ECA/USP e professor aposentado do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. É autor de vários livros e ensaios, entre eles: “A Pesquisa em Artes – um paralelo entre arte e ciência”, “Poesia Visual”, “Pirenópolis, pedras janelas quintais”, “Silvio Zamboni PB”. Foi o idealizador e o responsável pela criação da área de artes no CNPq, instituição em que trabalhou por muitos anos. Foi também fundador e presidente da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas – ANPAP. Desde 2002, tem se dedicado à linguagem fotográfica, levando adiante vários projetos que vão desde a publicação de livros até instalações fotográficas e foto-objetos. Silvio Zamboni nasceu na cidade de São Paulo, vive e trabalha em Brasília desde 1978.